sexta-feira, 19 de abril de 2013

A arte que aproxima


Ao ver Iuker dos Santos, 8 anos, e Iuri Silva, 9 anos, sentados em baixo da sombra de uma frondosa arvore as diferenças inexistem. São apenas dois meninos com menos de 10 anos, dois garotos que estão aprendendo a tocar banjo e que gostam de brincar nas toadas de boi. Entretanto, as familiaridades encerram por ai. Iuker vem de uma comunidade Quilombola do município de Ourém, o Mocambo, e é um dos pouco garotos do quilombo que pega a condução municipal para sair da zona rural e chegar na escola que estuda e fica localizada no centro de Ourém. Iuri vai de carro para escola particular que estuda em Belém e ainda participa gratuitamente do projeto social Orube arte-educação. Mas, apesar das diferencias sociais Iuker e Iuri confraternizaram os saberes debaixo daquela sombra e por ali ficaram um bom tempo, entre brincadeiras de menino e canções de boi.

Esse é o intercâmbio social que a ação “troca de Saberes” (TS),desenvolvido pelo projeto Social do bairro do Satélite  o “Orube arte-educação”, propõem, juntar agentes diversos para a confraternização de saberes. E assim no segundo final de semana de abril, pela terceira vez, oficinas foram realizadas simultaneamente no município de Ourém e no bairro do Satélite, encerrado num grande cortejo cultural pelas ruas do município do interior.

Oficinas de canto, percussão e de montagem de adereços foram ministradas com um conteúdo decido a partir das informações colhidas e decidas em vivências nas comunidades. 60 jovens em Belém e 60 agentes na comunidade do Mocambo ensaiaram as mesmas músicas, os mesmo passos, os mesmo toques no tambor.
Quando se encontraram a língua falada era a mesma: a do respeito às diferenças, admiração aos mestres e da cultura popular. Tudo retrado num cortejo que continha garotos equilibrados em enormes pernas de pau,palhaços, poetas paraenses, cores nas fitas dos chapéus, índios Tembés pintados pra festa, mestres de boi, mascarados, a biblioteca itinerante “Barca das letras” e música.

A população de Ourém apesar da proximidade aos muitos mestres de cultura popular (Ceguinho, Cardoso, Tuíte) atualmente veem poucas manifestações populares na rua. “Esse movimento aqui nas ruas é importante a gente no interior nunca tem nada pra ver e a garotada se diverte”, afirmou o morador José Maria dos Reis.

Muito mais bronzeado do sol que acompanhava os banhos de Igarapé Iuri, tocador de maracás no cordão do Orube, me diz que quer aprender a tocar banjo e barrica, e que quer voltar à Ourém “foi muito legal, quero voltar aqui pra tocar barrica nas ruas” e Iuker versador e tocador de pandeiro, da pele constantemente bronzeada, me afirma “quero ir em Belém tocar também, mas quero mais é que eles voltem aqui pra nos ver”. E como diz o mestre do boi Geringonça, Tuíte, de 75 anos de idade: Cada uma cultura que a gente conhece,   a gente aprende muito mais.